Rachide Marques, Líder comunitário na comunidade de Macumba, Nhamatanda
No dia 14 de Março de 2019, testemunhei algo que jamais esquecerei. Uma tempestade de proporções inimagináveis se abateu sobre nossa comunidade. O vento, forte e impiedoso, derrubou quase todas as árvores e casas, deixando para trás um cenário desolador.
Quando o amanhecer do dia 15 chegou, um sábado que jamais esqueceremos, nos deparamos com uma vista assustadora: água por todos os lados. Estávamos cercados, sem espaço para correr ou escapar, e, para piorar a situação, não tínhamos nem canoas nem barcos para nos refugiar. Era um pesadelo tornado realidade.
Nossa única sorte foi a presença de um murumuche atrás de nossa casa, onde todos nós nos reunimos, impotentes, observando nossos preciosos animais sendo arrastados pela fúria das águas, sem que pudéssemos fazer absolutamente nada para detê-la.
Tudo o que tínhamos recebido por meio do projeto da ADPP, que representava uma esperança para nossa comunidade, foi levado embora pela inundação. A tragédia se abateu sobre nós com uma crueldade inimaginável.
Nas noites intermináveis do ciclone, a morte fez-se presente de maneira cruel. Registramos a perda de três vidas na mesma casa, outras sete pessoas de uma mesma família encontraram um destino trágico em outra residência, e em mais uma casa, quatro pessoas, todos filhos de Macumba, nossa querida comunidade. A tristeza que pairou sobre nós era indescritível.
Essa experiência nos marcou profundamente e nos uniu ainda mais como comunidade. Apesar das perdas devastadoras, continuamos a enfrentar juntos as adversidades, buscando reconstruir nossas vidas e restaurar a esperança que o ciclone nos roubou.